O crescente aumento do uso do treinamento resistido pela população e de sua prescrição pelos profissionais da área tem levado muitos pesquisadores a verificar a segurança destes exercícios, principalmente sob o ponto de vista do sistema cardiovascular, para os praticantes, em especial os idosos e pacientes de reabilitação cardíaca.
Os benefícios resultantes do treinamento resistido são muito influenciados por um grande número de variáveis manipuláveis do treinamento como sobrecarga, volume, intensidade, massa muscular ativa, tipo de contração muscular, intervalo de descanso, tipo de equipamento utilizado, técnica de treinamento, nível inicial de condicionamento, tipo de programa utilizado, estado nutricional, estado emocional, técnica de respiração e experiência prévia. Todas estas variáveis podem influenciar a magnitude e duração das respostas ao treinamento, bem como as adaptações associadas ao exercício resistido.
Levando todas estas variáveis em consideração, podemos verificar uma grande quantidade de evidências científicas que sugerem um bom número de benefícios relacionados a um bem elaborado programa de musculação.
O treinamento resistido pode melhorar a saúde cardiovascular por diminuir vários dos fatores de risco associados às doenças cardiovasculares como a diminuição da pressão arterial de repouso; diminuição da freqüência cardíaca e pressão arterial durante o exercício; melhorias no perfil lipídico; melhoria da tolerância à glicose e diminuição da resistência à insulina; melhoria da composição corporal com significante diminuição da porcentagem relativa de gordura corporal; aumento da densidade mineral óssea; redução da ansiedade e depressão e melhoria do bem estar psicológico. Outra adaptação de fundamental importância é o aumento da força e resistência muscular que resulta numa melhoria da habilidade de executar as tarefas funcionais da vida diária proporcionando uma menor demanda sobre o sistema cardiovascular, musculoesquelético e metabólico.
A sobrecarga imposta ao sistema cardiovascular parece ser menor no exercício resistido do que no exercício aeróbio. Há pesquisas que comprovam que uma caminhada rápida em um plano um pouco inclinado proporciona um estresse cardiocirculatório mais acentuado do que exercícios de musculação praticados com 75% da carga máxima. As determinantes hemodinâmicas nos exercícios resistidos são diferentes quando comparadas aos exercícios aeróbios. No exercício resistido há uma resposta alta da pressão arterial diastólica, similar da pressão arterial sistólica e baixa da freqüência cardíaca ao aumento das sobrecargas de trabalho quando comparado aos exercícios aeróbios. Um potencial benefício da menor freqüência cardíaca combinada com maior pressão arterial diastólica é o aumento da perfusão coronariana durante a diástole, o que contribui para um mais favorável equilíbrio entre suprimento e demanda de oxigênio para o miocárdio.
O melhor indicador dos requerimentos de oxigênio e trabalho do miocárdio e, portanto da demanda por um aumento do fluxo sanguíneo nas artérias coronárias, é o duplo-produto. O duplo-produto (que pode ser estimado pelo produto da freqüência cardíaca e da pressão arterial sistólica) nos exercícios resistidos é relativamente baixo em indivíduos condicionados através do treinamento resistido. Vários estudos reportaram um reduzido duplo-produto em repouso e durante o exercício resistido sub-máximo em idosos e pacientes cardíacos. Baixo duplo-produto também foi verificado em fisiculturistas quando comparados a indivíduos sedentários durante teste ergométrico.
Uma redução no esforço necessário para elevar um determinado peso, juntamente com a diminuição da estimulação dos centros de controle cardiovascular, pode contribuir para esta alteração na resposta da pressão arterial observada depois do treinamento com pesos. Por isso, indivíduos condicionados pelo treinamento resistido requerem uma carga de trabalho mais alta para atingir o mesmo duplo-produto que indivíduos sedentários, ou seja, cargas absolutas representam uma menor porcentagem do esforço máximo, o que reduz a intensidade relativa do exercício. O resultado desta adaptação é uma reduzida probabilidade de um evento cardíaco isquêmico durante a atividade física.
Várias entidades como o American College of Sport Medicine, American Heart Association, American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation e o National Institute of Health já recomendam a musculação como componente integral de um bom programa de condicionamento físico para adultos saudáveis e com doenças do coração. Um benefício potencial do treinamento resistido para pacientes com insuficiência cardíaca crônica, por exemplo, é o resultante aumento da massa muscular magra que pode contrabalançar a perda muscular que ocorre com esta síndrome.
De maneira geral, parece que o treinamento resistido apropriadamente prescrito é uma forma segura de exercício para a maioria da população e é associado com um mínimo risco de eventos cardiovasculares inclusive em indivíduos com prévio infarto do miocárdio ou insuficiência cardíaca crônica. Os profissionais da saúde que prescrevem treinamento resistido, no entanto, devem reconhecer que as respostas circulatórias e hemodinâmicas agudas são influenciadas por variáveis do treinamento já descritas acima e devem considerar todas elas na elaboração de um bom programa de exercícios resistidos que enfatize a segurança e a saúde do sistema cardiovascular.